terça-feira, 17 de maio de 2016

Abuso sexual infantil - Sequelas - Desenho explicativo

Filme - O Silêncio de Lara - Quebrando o Silencio 2015

O Seu Corpo é um Tesourinho

sugestões para trabalhar sobre o abuso exploração sexual de crianças e adolescentes

18 de maio- Dia nacional de combate ao abuso e exploração sexual da criança e adolescente.
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O símbolo- A campanha tem como símbolo  uma flor, como uma lembrança dos desenhos da primeira infância, além de associar a fragilidade de uma flor com a de uma criança.
Por  se tratar de um tema muito difícil de se trabalhar com crianças  da Educação infantil e de alfabetização resolvemos postar  algumas sugestões para se trabalhar de forma lúdica através de uma roda de conversa por meio  de  histórias e músicas para se abordar o tema.
Aí vai uma história criada por mim para que vocês possam abordar o tema

História-:
A florzinha Lili (Ana Cléa Sobral)
Lili era uma florzinha linda e cheirosa que nasceu em um belo jardim . Ela era muito feliz,  pois vivia rodeada de borboletas, joaninhas e outras florzinhas e tinha muita alegria em sentir o vento e a chuva nas nas suas pétalas aveludadas.O jardineiro cuidava muito bem do seu jardim, mas precisava se ausentar para cuidar também de outras tarefas.
Um dia apareceu no jardim  um homem muito mau que gostava de machucar as florzinhas. Sempre que via uma florzinha feliz ele não se continha, e enquanto não a destruía ele não ficava satisfeito.

Num belo dia de sol ele viu Lili brincando com as outras florzinhas,  cantarolando e com seus cabelos ao vento  e foi se aproximando dela como quem  nada queria. Primeiro, ele começou acariciá-la com suas mãos grandes e ásperas e a pobre florzinha nem desconfiou do mal que ele lhe podia causar. Com o passar dos dias ele começou a frequentar cada vez mais o jardim, até que um dia ele colocou o seu plano maléfico em ação. Arrancou Lili do caule com muita força, tirou suas pétalas e jogou-lhe no chão com muita raiva, pisando nela e  deixando-a ferida,  triste, assustada e sem vontade de viver.
O jardineiro apareceu no jardim e viu Lili ali jogada num canto e perguntou pra ela quem havia feito aquilo. Ela com muito medo que o homem mau voltasse não quis falar, porque ele tinha lhe ameaçado:” se você falar pra alguém eu acabo com você”. Mas o sábio jardineiro disse pra Lili que ele só poderia lhe ajudar se ela contasse pra ele e que só queria protegê-la,  pois era seu amigo de verdade. Lili , criou coragem e resolveu contar tudo ao jardineiro e ele chamou os guardas do jardim e mandou que procurassem o homem mau até encontrá-lo e o levassem pra uma prisão. Os guardas obedeceram e acharam aquele malvado e o trancaram, pois era um homem muito perigoso. De lá ele não pode mais sair e nunca mais fez mal a florzinha.
O jardineiro cuidou de Lili com tanto amor que ela conseguiu se recuperar. Ficou sarada e cresceu muito bonita e todos que passavam achavam aquela florzinha linda e cheirosa. Lili voltou a sorrir e viveu muito tempo naquele jardim.


Questões para a roda de conversa:
1-Como é o título da História?
2-A florzinha representa as pessoas indefesas. Quem pode ser comparada a florzinha no nosso mundo?
3_Existem pessoas capazes de fazer mal as crianças?
4_Essas pessoas que se aproveitam por serem mais fortes(adultos)para maltratar as crianças , que machucam, ferem, abusam elas devem ser punidas?(Aqui pode falar da Lei 9.970/00)
5_ A florzinha não queria contar ao jardineiro sua história porque tinha medo. Vocês acham que  existem crianças que ficam com medo dos adultos por que alguém lhe faz mal e fez ameaças e por isso ela não confia mais em  ninguém?(Essa Pergunta tem de ser feita por partes ,pois é extensa)
6- O jardineiro ajudou a florzinha a voltar a ser feliz por isso era seu amigo de verdade. Quem são as pessoas que a criança pode confiar e contar suas histórias?

 Informações para o professor:

Diferença entre  abuso e exploração sexual

O abuso envolve contato sexual entre uma criança ou adolescente e um adulto ou pessoa significativamente mais velha e poderosa. As crianças, pelo seu estágio de desenvolvimento, não são capazes de entender o contato sexual ou resistir à ele, e podem ser psicológica ou socialmente dependentes do ofensor. o abuso acontece quando o adulto utiliza o corpo de uma criança ou adolescente para sua satisfação sexual. Já a exploração sexual é quando se paga para ter sexo com a pessoa de idade inferior a 18 anos. As duas situações são crimes de violência sexual.

               
Sugestões  de músicas--para contextualizar :A LINDA ROSA JUVENIL, O CRAVO E A ROSA´O SEU CORPO É UM TESOURINHO.

Imagens para trabalhar a história( as imagens foram adaptadas da história a florzinha mariana-site da apec e outros,  contidos nas imagens.)atividades para pintar e de colagem.



Descrição: C:\Users\Ana Cléa\Pictures\JARDIM.jpg































O cravo brigou com a rosa

A linda rosa juvenil - Cantigas de Roda Infantil

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Noel Rosa - Com que Roupa ?

SUGESTÃO PARA TRABALHAR COM O GÊNERO CRÔNICA NA OLÍMPIADA DE LÍNGUA PORTUGUESA

COM QUE CRÔNICA EU VOU
Usar música na aula pode proporcionar um sabor todo diferente e um aprendizado ainda mais prazeroso para seus alunos. Imagina então utilizar letra da música para trabalhar o gênero crônica e estimular a produção de texto? Apresentando um pouco da obra do grande compositor Noel Rosa, veja a seguir algumas dicas de como aproveitar na sala de aula a riqueza cultural da música popular brasileira.


Aproveite a riqueza da nossa música popular para trabalhar com os alunos um dos gêneros de maior sucesso nas letras brasileiras.
Noel de Medeiros Rosa, sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista, nasceu no bairro de Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1910. Contribuiu para a legitimação do samba de morro no “asfalto”, ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação de sua época. Teve, em seu nascimento, fratura e afundamento do maxilar provocados pelo fórceps, além de uma pequena paralisia na face direita, que o deixou desfigurado para o resto da vida, apesar das cirurgias sofridas aos 6 e 12 anos. Na escola recebeu dos colegas o apelido de “Queixinho”. Neto, bisneto e sobrinho de médicos, em 1931 entrou para a faculdade de medicina, sem, no entanto, abandonar o violão e a boemia. O samba falou mais alto, pois largou o curso meses depois, quando começou a compor e a tocar no Bando de Tangarás. Dominava o idioma e a gramática. Talentoso, desenhava caricaturas. Teve paixões por mulheres que se tornaram musas de alguns de seus sambas, como Ceci, dançarina de um cabaré da Lapa. Para ela, compôs Dama do cabaré e Último desejo. Casou-se com Lindaura – de apenas 13 anos – em dezembro de 1934. Essa união não modificou seus hábitos boêmios, que acabariam por comprometer irremediavelmente a sua saúde. Compôs mais de 250 músicas com mais de 50 parceiros. Inspirado, improvisava versos sobre tudo e todos; de cada detalhe, nascia um samba. Morreu no dia 4 de maio de 1937, aos 26 anos, em decorrência da tuberculose. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:

Conversa de botequim
Convide os alunos para ouvir e apreciar a riqueza da melodia, o ritmo, a harmonia de um dos sambas mais conhecidos de Noel Rosa e Osvaldo Gogliano (Vadico): Conversa de botequim. Comente como os compositores conseguiram o casamento perfeito entre letra e música. Destaque a beleza da linha melódica que permanece ecoando no ouvido. Em seguida, apresente a letra da canção em que o compositor faz uma crônica de costume da década de 1930. De acordo com alguns biógrafos, Noel conhecia profundamente a geografia da cidade e do subúrbio do Rio de Janeiro. Veja a letra: 
Conversa de botequim
Seu garçom,  faça o favor de me trazer depressa
uma boa média que não seja requentada,
um pão bem quente com manteiga à beça,
um guardanapo e um copo d’água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Se você ficar limpando a mesa
não me levanto nem pago a despesa.
Vá pedir ao seu patrão
uma caneta, um tinteiro,
um envelope e um cartão.
Não se esqueça de me dar palitos
e um cigarro pra espantar mosquitos.
Vá dizer ao charuteiro
que me empreste umas revistas,
um isqueiro e um cinzeiro.

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
uma boa média que não seja requentada,
um pão bem quente com manteiga à beça,
um guardanapo e um copo d’água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Telefone ao menos uma vez para 34-4333
e ordene ao seu Osório
que me mande um guarda-chuva
aqui pro nosso escritório.
Seu garçom, me empresta algum dinheiro,
Que eu deixei o meu com o bicheiro.
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa
No cabide ali em frente.

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
uma boa média que não seja requentada,
um pão bem quente com manteiga à beça,
um guardanapo e um copo d’água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.
Em Conversa de botequim, Noel descreve o cotidiano das personagens que buscam petisco, bebida, música, prosa leve e divertida com amigos em um autêntico bar carioca. Ele tinha uma mesa cativa em um bar da Vila Isabel. Também era presença constante no Café Nice, ponto de encontro do pessoal de rádio, músicos, intelectuais, políticos, boêmios, que ali ficavam o dia todo, numa conversa fiada, arquitetando intrigas, compondo e vendendo música.
Num tom irreverente, às vezes imperativo, o compositor bate papo com o garçom. Enumera ações a serem cumpridas, como se estivesse em um espaço familiar – nosso escritório –, com todos os direitos assegurados: faça o favor / trazer depressa / feche a porta / vá perguntar / vá pedir / não se esqueça / me empreste / vá dizer / telefone ao menos / ordene / me mande... Num vocabulário típico da época, empregado de forma exata, no ritmo das frases, o jeito carioca e as gírias também somam na construção. O estilo sintático peculiar é outra característica destacável na vida do carioca, começando pelo “seu”, misturado com você. Deixa de lado a métrica rigorosa dos poetas parnasianos e confirma sua posição a favor da cultura “popular”. Mostra os costumes e hábitos culturais – a boa média (café com leite), o pão com manteiga, o futebol e o “pendura”. Também sugere a crise financeira do povo. Não tinha dinheiro para comprar cigarro, caneta, rádio, nem para pagar a conta do botequim. Tudo era emprestado por alguém; dependida da boa vontade alheia até para saber o resultado do futebol. De um jeito malandro, o frequentador desse bar buscava um jeito de sobreviver.




Do verso à prosa
Noel – o cronista-letrista – anotava acontecimentos curiosos, fazia montagens e, em forma de poesia, apresentava “a vida como ela é”. Para esquentar a conversa, sugerimos uma leitura cuidadosa da crônica Como nasceu aquela Conversa, escrita pelo jornalista Luiz Henrique Gurgel, inspirada na canção de Noel.

Como nasceu aquela Conversa.
Luiz Henrique Gurgel
Ele morreu moço e ficou famoso. Era danado de inteligente e rápido com as palavras. Mas pouca gente sabe que contou pela metade – melhor dizendo, cantou pela metade – uma das suas histórias mais famosas, na qual fui personagem. Conto eu, então, a outra metade, já que de música entendo nada.
Baixinho e magricela, de queixo curto, entrou no meu estabelecimento como tantos outros que teimavam em esticar a madrugada pela manhã adentro. Usava um terno entre o cinza e o branco, meio encardido e amarrotado. Dedos da mão direita amarelados de tanto cigarro Yolanda, o mais barato mata-ratos do mercado, que ele pousou sobre a mesa. Olhou para mim: “Ô Juarez! Uma média clarinha, e um pão com bastante manteiga, faça o favor”. Nem disse “bom dia”. Depois emendou: “E rápido, que tenho compromisso”. Não me chamo Juarez. E eu jamais havia visto aquele tipo na vida. Pego de surpresa, meio embasbacado, levei o pedido à mesa. “Não esqueça o copo d’água, bem gelada, Jura.” Ainda sem raciocinar direito, ia retornando ao balcão para buscar a água quando ele segurou meu braço e discreta e deslavadamente, com a caradura e retorcida de um vampiro à luz do dia: “Fecha a porta da direita com cuidado, que eu não estou bom para encarar o sol”. Fui acompanhando meus pés, eu não sabia reagir ao sujeito folgado. Fechei a porta e fui rápido buscar a água gelada.
“Quanto foi Olaria e Madureira, ontem, Jura?” Balbuciei: “Não sei...”. “Então pergunta para o rapaz da outra mesa, caramba.” Levei a água e o resultado do jogo. Aproveitei para passar o pano na mesa, tirar as casquinhas de pão e os respingos do café com leite. “Se for continuar limpando a mesa, além de eu não sair daqui, não pago a conta.” Olhei para ele espantado. “E traga outro cigarrinho que eu enjoei do Yolanda essa noite. Não esqueça o isqueiro e o cinzeiro, que aqui não tem. Aproveita e peça ao seu Joaquim, aí da banca da frente, umas revistas emprestadas para eu dar uma olhada.”
Não era medo do magricela, que não devia pesar mais que 50 quilos e não resistiria ao mais ínfimo bofetão que eu lhe desse. Não sei explicar. Eu continuava solícito, agindo anestesiado por aquela gentil soberba. Ele pedia com tranquilidade. Quem apenas ouvisse o som das palavras, sem entender o sentido, não notaria a menor arrogância. Tinha a voz firme e suave de um menino frágil. Passei por ele enquanto folheava as revistas: “Juarez! Vá pedir ao patrão uma caneta, um envelope e um cartão”. “Sim, senhor”, respondi simplesmente. Eu parecia um funcionário novato, submisso aos caprichos do freguês para não perder o emprego. No caminho até o balcão – para pedir papel, caneta e envelope ao patrão – é que me lembrei que eu era o dono do boteco. Despejei caneta, papel e envelope – usado – que achei no caixa, com um sonoro tapa sobre a mesa de fórmica. De frente para ele, mãos cerradas na cintura, enfrentei. Não mudou de ares e me olhou com a mesma naturalidade de antes: “Aproveita e liga para esse número e me chama o Osório para vir aqui no escritório”, escrevendo o telefone no papel que eu havia trazido.
Em frangalhos, meus ombros arrefeceram e minhas mãos despencaram cintura abaixo. Tão desprevenido que, se soltasse o tabefe que guardava na mão direita, eu ia acabar acertando a mim mesmo. Segui resignado para o telefone e já ia discando o número que ele anotou. Osório, Osório. Parei de discar e ri por dentro com a lembrança do nome. O magricela quem deu a dica. Eu sabia o número do Osório de cor. Mas era o Osório meu amigo, delegado de polícia do bairro. Expliquei, cochichando no aparelho, o meu drama.
“Jura, chega aqui.” Fui cantarolando, todo sorriso debaixo do bigode, com a mesura de um maître refinado num sofisticado restaurante: “Pois, não?”. O magricela estranhou. Primeira vez. Foi só uma fração de segundo. A fala mansa na voz macia explicou que estava “sem nenhum” e que não dera sorte no jogo do bicho. Depois, como quem faz uma jura de amor, tascou o pedido: “Empresta algum e dê um toque ao seu patrão para pendurar essa, que eu acerto depois. Fica tranquilo que hoje vou sonhar com o sol e aí é cabra na cabeça!”.
Minha expressão foi mudando lentamente. Quis gritar o nome do Osório – delegado –, dizendo que ele estava a caminho. Mas até isso ficou parado na garganta. Ainda arqueado, sem graça diante do sujeito, assombrou à porta do estabelecimento a minha salvação. Terno de linho branco e chapéu panamá, parecendo mais um coronel de cidade do interior. Aprumei-me de novo, era a minha vez de falar macio: “Osório chegou”.
O malandro não perdeu o rebolado: “Salve, Osório! Precisava mesmo falar com sua graça”. “Claro”, respondeu o delegado. “Mas não aqui. Vamos conversar no distrito”. Meu sorriso fez erguer as pontas do bigode. Fui acompanhando com os olhos a saída dos dois. Da porta, o magricela voltou-se, simpático, para mim: “Até mais, Jura, agradeça ao patrão. Não esqueça o que lhe falei. Vai dar cabra na cabeça e eu volto para deixar aquela gorjeta”. Despedi-me com um sorrisinho maledicente, pensando no sol quadrado com o qual ele ia sonhar.
Eu sabia que tipos inofensivos como aquele recebiam, no máximo, uma descompostura do delegado e iam embora. O que eu não imaginava é que o baixinho magricela, de queixo curto, voltaria três dias depois, mais simpático e ainda mais íntimo. “Jura, liga no programa do Casé1, hoje à noite. Aracy de Almeida vai cantar um samba meu pra você”, e saiu do jeito que entrou.
Não dei pelota, um maluco a mais. Estabelecimento fechado,  liguei o rádio às vinte horas em ponto, enquanto colocava as cadeiras sobre as mesas e varria o chão. Não demorou  para o locutor anunciar: “Iremos ouvir agora a Dama do Encantado, a grande Aracy de Almeida, interpretando o mais novo samba de Noel Rosa”. Só me lembro, depois, da voz deliciosa de Aracy: “Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa...”.
¹ Ademar Casé (1902 -1993) revolucionou o rádio no Brasil (1932). Criou o primeiro programa de rádio comercial no país, o Programa Casé. Lançou inúmeros artistas, foi o primeiro a pagar cachê e a fazer um contrato de exclusividade. Para saber mais sobre o pioneiro do rádio acesse:
Da canção à crônica
Após a leitura, um bate-papo sobre essa deliciosa crônica pode ser muito proveitoso. Ouça os comentários e aguce a observação dos alunos com algumas questões: O que o cronista aproveitou da canção para escrever a crônica? Caracterizou bem o cenário e a personagem? A frase “Mas pouca gente sabe que ele contou pela metade – melhor dizendo, cantou pela metade” conseguiu criar um clima de suspense? De que maneira mostrou o lirismo? E o humor, esteve presente em quais momentos? Que expressões são próprias da linguagem coloquial e que efeito o uso delas produziu no texto? O diálogo criou intimidade com o leitor? O final foi apropriado? Ou gostariam de propor outro final? O que mais foi observado e merece destaque? Durante a conversa também vale a pena comparar as características da canção e da crônica.
Letra da música: a disposição do texto na página, os recursos poéticos que constroem a cadência, a musicalidade, um texto que mais sugere do que descreve, a supressão ou o acréscimo de palavras em favor do ritmo.

A crônica: disposição do texto na página, os procedimentos descritivos e explicativos usados pelo cronista, o uso de tempos e modos verbais indicando o tom imperativo da personagem (recurso que também aparece na música), o detalhamento das circunstâncias e do ponto de vista do narrador.
A prosa continua A composição de Noel traz as personagens e o cenário inspirador para a escrita de uma crônica. Peça aos alunos que imaginem uma conversa de botequim no século XXI. Se possível, leve para a sala de aula jornais, revistas, guias que tenham fotografias e comentários sobre bares de diferentes cidades. Divida os alunos em pequenos grupos, distribua-lhes o material e proponha que folheiem e leiam com atenção as publicações. A leitura vai ajudar na composição do cenário, determinar os frequentadores, a música, o cardápio... enfim, caracterizar o dia a dia do botequim, da lanchonete, ponto de encontro dos moradores de um bairro ou cidade.
Instigue a participação da turma por meio de perguntas: Quais serão as personagens? Como vai ser o enredo? Terá elemento surpresa? Qual o tom da narrativa? Irônico, bem-humorado, lírico, crítico? Vamos manter o diálogo entre as personagens? A situação de comunicação está bem definida (quem fala; de que lugar; com que objetivo; para quem ler; em que suporte)? E o foco narrativo, será na primeira ou na terceira pessoa?
Essa conversa vai fortalecer e orientar o planejamento da escrita. Depois de abastecido pelo humor e pelo lirismo da composição de Noel, cada aluno vai assumir o papel de cronista.
Como desdobramento, proponha aos alunos que façam uma paródia da crônica de Luiz Henrique Gurgel, ou escolham uma das crônicas da turma e, após o consentimento do autor, escrevam, coletivamente, uma paródia.
Paródia s.f. Obra literária, teatral, musical etc. que imita outra obra, ou os procedimentos de uma corrente artística, escola etc., com objetivo jocoso ou satírico; arremedo.
Etimologia: gr. Paróidía, as “imitação bufa de um trecho poético, paródia”, do gr.Pará, “ao lado de” + óidê,ês “ode”, pelo lat. parodìa,ae “id”.
A paródia é um texto duplo, pois recria – de forma contestadora, irônica, crítica – o texto conhecido. Diz o que não foi dito, faz uma caricatura, transforma, nega o sentido e o estilo do texto original.
Para saber mais sobre paródia leia Affonso Romano de Sant’Anna (Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, 2003. Série Princípios) ou acesse <http://www.scribd.com/doc/6180365/Affonso-Romano-de-SantAnna-Parodia-Parafrase-e-CIA-PDF-Rev>.

Com que roupa?
Escreva na lousa a frase “Com que roupa?”. Pergunte aos alunos o que essa expressão significa e anote todas as opiniões apresentadas por eles. Informe-os de que vão ouvir a canção com esse título – Com que roupa? –, de Noel Rosa, interpretada por Gilberto Gil (<http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/46250>).
Depois da audição, pergunte aos alunos se a letra tem algo a ver com a conversa inicial. Mostre-lhes a letra da canção por escrito. Pergunte se alguém tem ideia de quando foi composta a canção (1930), do tipo de roupa que se usava nessa época, se costumam utilizar a expressão “Com que roupa” e em qual situação. Que importância dão ao vestuário? Gostam de roupas de grifes da moda? Seguem à risca os modismos veiculados pela mídia? Sentem-se aprisionados à ditadura da moda? Ou procuram “customizar”, criar o próprio estilo de vestir?
Ouça com atenção o que os alunos têm a dizer, estimulando a troca de ideias entre eles. Para saber mais, você pode acessar <http://almanaque.folha.uol.com.br/anos30.htm>.
Desperte a curiosidade do grupo lendo depoimentos do compositor, sobre a música Com que roupa? , publicados em jornais do Rio de Janeiro.
Diário de Notícia, 15 de fevereiro de 1931
“... quando fiz Com que roupa? não tive em mira fazer alusão ao povo, que, apesar de tudo, sei que ainda tem roupa e faço votos que continue a tê-la em profusão e que não lhe falte roupa, e muita, para brincar o carnaval. ‘Com que roupa?’ é uma pergunta que se aplica a diversos casos. Por exemplo, se um camarada está sem dinheiro e alguém o convida para um baile ou uma festa qualquer, ele retruca, com um gesto significativo: ‘Com que roupa?’ (isto é, com que dinheiro). Se precisa resolver qualquer assunto intrincado, sem descobrir os meios para tal, recorre ainda à mesma interrogação: ‘Com que roupa?’ Aí está.”
Jornal de Rádio, 1º- de janeiro de 1935
“Com que roupa? tem uma história interessantíssima que vale a pena contar aqui, a título de curiosidade. Foi um caso que se passou comigo mesmo. Com sangue de boêmio, eu passei a chegar em casa, em determinada época, a altas horas da noite. Vindo de festas ou de serenatas, ou de simples conversas. Mas o fato é que essa vida, passada toda em claro, devia prejudicar a minha saúde. Foi o que aconteceu. Mas quem mais se assustava era mamãe. Pressentiu, antes que ninguém, o meu estado. E dia a dia renovava as suas advertências, os apelos, para que não me demorasse na rua tanto tempo, para que dormisse mais, que eu acabava doente. Eu prometia que sim. Mas a minha vontade era nula. Chegava fatalmente às mesmas horas com as mesmas olheiras e com aquele emagrecimento progressivo, que estava alarmando todo mundo. Desesperada de não conseguir pelos recursos da persuasão, minha mãe lembrou-se de um antigo recurso, mas cujo efeito é sempre eficaz. Assim é que escondeu todas as minhas roupas. Sem exceção. Fiquei desesperado. O pior é que, na véspera, mandara que alguns amigos viessem me buscar para irmos a uma festa. Os amigos não faltaram. À noite, batiam lá em casa: ‘Como é, Noel, vamos para o baile?’ E eu, dentro do meu quarto: ‘Mas com que roupa?’ Mal eu tinha acabado de soltar a frase, e ocorreu a inspiração de fazer um samba com o tema. Daí o estribilho: ‘Com que roupa eu vou / Ao samba que você me convidou?’.”
A próxima etapa é pedir aos alunos que leiam a letra da canção Com que roupa? e destaquem as palavras desconhecidas. Divida os alunos em pequenos grupos. Peça-lhes que tentem descobrir o significado das palavras pelo contexto. Em um cartaz, eles devem, como num dicionário, escrever as palavras desconhecidas e os supostos significados. Finalizada a tarefa, disponibilize dicionários entre os grupos para que possam conferir seus palpites, complementar ou corrigir os desacertos.
Aprumar – verbo pronominal ( sentido figurado): vestir-se com elegância, com apuro; verbo transitivo direto e pronominal: tornar(-se) altivo, sobranceiro, orgulhoso;regionalismo (Brasil) : melhorar de negócios, de sorte ou de saúde.
Cabra – regionalismo (Brasil) : mestiço indefinido, de negro, índio ou branco, de pele moreno-clara; indivíduo determinado; sujeito, cara; indivíduo forte, valente, petulante, brigão.
Cachopa – regionalismo (Portugal) : menina, rapariga, moça da província (do Norte de Portugal).
Estopa – a parte mais grosseira do linho, que é separada deste com a ajuda de um sedeiro; tecido feito com essa parte; resíduo de qualquer fibra, com que se produz o fio cardado.
Fagueiro – que afaga; meigo, carinhoso, suave; que transmite prazer; agradável, ameno, sereno; sentido figurado: alegre, satisfeito, contente.
Também há várias expressões próprias da linguagem oral que remetem aos provérbios populares e retratam metaforicamente a pobreza do país na época: já corri de vento em popa; pulando feito sapo; a vida não está sopa; praga de urubu. Pergunte aos alunos se eles conhecem o significado desses provérbios. Chame a atenção deles para o modo como as palavras são combinadas para formar os versos, a presença de rima, o uso do paralelismo sintático (uma mesma construção se repete ao longo do texto), reforçado pelo estribilho. Todos esses recursos favoreceram a memorização da canção, que se transformou num grande sucesso de Noel.

Com que roupa?
Agora vou mudar minha conduta
eu vou pra luta,
pois eu quero me aprumar.
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar,
Pois esta vida não tá sopa
E eu pergunto: com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Agora eu não ando mais fagueiro,
pois o dinheiro
não é fácil de ganhar.
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa.
Mas agora com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo
Desta pr aga de urubu.
Já estou coberto de farrapo,
Eu vou acabar ficando nu.
Meu terno já virou estopa.
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Segundo biógrafos, Noel costumava inventar outras estrofes para a canção Com que roupa? e cantá-las em programas de rádio, mas nenhuma delas foi gravada.
Mas eu declaro
que você é um bom peixão,
e hoje que você se vende caro
creio que você não tem razão.
O peixe caro é a garoupa
com que escama e com que roupa.
Eu nunca sinto falta de trabalho
desde pirralho que eu embrulho o paspalhão.
Minha boa sorte é o baralho
mas minha desgraça é o garrafão.
Dinheiro fácil não se poupa
mas agora com que roupa.

Para saber mais
Na edição 59 da Revista Língua Portuguesa, publicada em 16/09/2010, o professor João Jonas Sobral escreveu um artigo "O ataque de Noel Rosa - Centenário de nascimento do compositor testa sua atualidade poética e mostra seu dialógo com movimentos de vanguarda literária". Para ler acesse:
Você também pode enriquecer o trabalho lendo a crônica "A dama do Encantado", de João Antônio acessando o site Releituras:
www.releituras.com/jantonio_dencantado.asp
FONTE:portaldaOlimpiadawww.escrevendoofuturo

COM QUE ROUPA NA VOZ DE ANITA PARA OS ALUNOS COMPARAREM




Anitta - Com que roupa (Regravação de Noel Rosa)

Noel Rosa - Conversa de Botequim (Gravação Original)